(Crepúsculo - foto de Danilo Azevedo) |
A última valsa
Ela me visita sempre.
Quando bate à minha porta, digo:
- Espera, tenho que escrever o dia.
Então, à tarde ela retorna.
Eu falo manso:
- Vê? Ainda não anoiteceu.
Tenho que bordar a tarde.
À noite ela chega aflita.
Quer vestir-me de negro
para a última dança.
Recuso:
- Sinto, distinta senhora,
quero, na borda da escrita, madrugar poesia.
O dia me espera para a branca valsa da vida.
Ao vê-la triste, sozinha, consolo:
- Um dia, juntas dançaremos a despedida.
Sob a luz do sol poente,
a última valsa.
Flávia Drummond Naves
Poema premiado com o 1º lugar, categoria Poesia, no Concurso Literário promovido pela OAP-UFMG 2011.