Noêmia Maria Moreira Bruzzi
Psicanalista
Membro da Escola Freudiana de Belo Horizonte/iepsi
Psicanalista
Membro da Escola Freudiana de Belo Horizonte/iepsi
Desde a época em que era queimada nas fogueiras, na Idade Media, como uma bruxa; a histérica tem sido nomeada de varias maneiras. O caminho das histéricas depois disso foi: as paralisias do século XIX, a mascarada fálica da psicanalista Helen Deustch, tendo antes passado pelas sabias mãos de Freud que ao escutá-las como merecedoras de atenção. Descobriu, através dessa escuta, o funcionamento psíquico delas numa época de extremo organicismo, tanto dos neurologistas como dos psiquiatras que achavam que essas paralisias não passavam de fingimento: embora elas não andassem.
Foi com Freud que elas tiveram o direito de um tratamento digno e próprio: a psicanálise. Mas não nos iludamos: embora a psicanálise já esteja inserida na nossa cultura há mais de um século e aceita, freqüentando inclusive os CERSAM; ainda tem médicos que dela nada querem saber; e o pior: agem como os médicos do século XIX. Dizem: “a Senhora não tem nada”, diante de uma enxaqueca que depois de mudanças na posição subjetiva desse sujeito histérico simplesmente desapareceu. Seria “muito mais adequado da parte desse médico” “O doutor computador” se ele conseguisse dizer: “A Sra. não tem nada que eu possa tratar: continue com a sua psicanalista”. Mas como nós sabemos o computador só obedece ordens: por si só ele não faz nada! Esse Dr. Computador devia ter um protocolo e só saber trabalhar dentro dele. Nem todos os médicos são assim: muitos estão nos procurando, e descobrem com a sua própria analise que eles adquiriram outra escuta, aprendendo a escutar seu inconsciente.
Na sua famosa carta 52, datada de Viena no dia 21de setembro de 1825, escrevendo à Fliess, Freud descobre que as histéricas não sofreram uma sedução na realidade; mas é para elas uma realidade psíquica. Esta é para Freud a primeira mentira das histéricas, ou seja: uma fantasia.
É o que acontece com Eve. Ela constrói toda sua história a partir da primeira mentira (fantasia), depois chamada também por Freud de romance familiar. Seu objetivo era falicamente conseguir o que queria: tornar-se a atriz principal do teatro nova-iorquino até chegar a Hollywood. Para isso ela assiste compulsivamente às peças de Beth Davis (Margo), aprende com ela, procura a melhor amiga de Margo, pede para ser apresentada, e ainda consegue ser sua assistente.
Isto não acabou: Danuza Leão escreveu sobre este tipo de mulher em sua coluna da Folha de São Paulo no ano passado. Segundo ela, “mulheres que chegam de mansinho, tornam-se sua melhor amiga, cuidam de sua agenda e quando você vê; é dona de sua casa”. Em 6/02/2011 acontece com Danuza Leão, outro caso que apresentou na sua coluna de domingo: “Classes sociais”. Por preguiça de ir à piscina às 7h da manhã ela tem em casa uma empregada que por conta própria chegava a sua casa às 6h da manhã. Ela leva a empregada para fazer a natação com ela, paga a mensalidade e dá o material necessário. Quando comenta com amigos, ninguém diz nada. Um dia descobre que nos fins de semana, na sua ausência, a empregada “tira” férias com o marido na casa dela. Dispensou a empregada; teve que comprar roupas de cama que ela não averiguava, e que tinham acabado. Em vez de queijo gruière agora só compra queijo minas... Estamos no século XXI, Danuza despede as duas moças, cada uma a seu tempo.
Eve, na sua procura pela aprendizagem assiste às peças, fica em pé nas apresentações para baratear os custos.E assiste tanto, e fica melhor do que a própria protagonista. (Margo Channig interpretada por Bete Davis)
Só uma mulher mais experiente,a camareira, percebe a sua fantasia: a sedução posta em ato.
Porque ela faz tudo isto, seria ela má? Não propriamente. Trata-se de uma mulher que busca a todo custo acesso à feminilidade. E pode continuar assim a vida inteira porque é comum encontrarmos mulheres que só ficam assim: fálicas.
Quem sou eu? Porque elas desconfiam que algo manda nelas, mas não sabem o que é. Esta fantasia é inconsciente.
Freud em sua conferencia XXXIII de 1932: A feminilidade; perguntou “O que quer uma mulher? Tanto nós psicanalistas como outros estudiosos, tentamos responde-la”. O que fez Simone de Beauvoir imortalizar esta frase:” Não se nasce mulher, torna-se mulher”.
O caminho é longo e é um trabalho consigo mesmo em que cada uma deve se permitir, junto de um analista, fazer esta mudança de posição: de ser fálica para tornar-se mulher.
Freud dá algumas respostas a esta questão formulada por ele: A mulher quer mais ser amada do que amar. Aponta algumas saídas para a feminilidade. Fala da castração nos homens e do Penisnneid(inveja do pênis) na mulher.
Diz que a inveja do pênis “O desejo de ter o pênis, numa mulher madura, pode apesar de tudo, contribuir para levá-la a uma analise, e numa análise, o que ela pode racionalmente esperar de uma análise é o exercício de uma profissão intelectual”
Freud atribui um complexo de castração às mulheres. E que a descoberta de que realmente é castrada, representa um marco decisivo no crescimento da menina.
Três linhas de desenvolvimento se apresentam: 1)Conduz à inibição sexual ou à neurose; 2) a uma modificação do caráter no sentido de um complexo de masculinidade. (3) A terceira, finalmente a feminilidade normal. Acrescenta: temos aprendido uma quantidade considerável, embora não tudo a respeito das três.
Hoje a feminilidade não é mais o “continente negro” que Freud via nos anos 30 do século passado. E ele ao escutá-las não só descobriu a psicanálise como lançou os alicerces para que pudéssemos continuar avançando nos tratamento das
histéricas que batem as nossas portas.
Noêmia M. Moreira Bruzzi
Sinopse do filme: Desde o momento que vislumbra seu ídolo na porta do teatro, Eve Harrington ( Anne Baxter) dirigi-se impiedosamente rumo ao seu objetivo: arrebatar as rédeas do poder da grande atriz Margo Channig( Bete Davis). A astuta Eve manobra seu caminho para tomar o lugar de Margo na Broadway, causa sensação e interfere na vida do namorado de Margo ( Gary Merril), o escritor e suas peças (Hugh Marlowe) e sua esposa( Celeste Holm). Apenas o cínico crítico de teatro (o vencedor do Oscar, George Sanders) consegue perceber as intenções de Eve, admirando sua audáciae o padrão perfeito de dissimulação.
Na sua famosa carta 52, datada de Viena no dia 21de setembro de 1825, escrevendo à Fliess, Freud descobre que as histéricas não sofreram uma sedução na realidade; mas é para elas uma realidade psíquica. Esta é para Freud a primeira mentira das histéricas, ou seja: uma fantasia.
É o que acontece com Eve. Ela constrói toda sua história a partir da primeira mentira (fantasia), depois chamada também por Freud de romance familiar. Seu objetivo era falicamente conseguir o que queria: tornar-se a atriz principal do teatro nova-iorquino até chegar a Hollywood. Para isso ela assiste compulsivamente às peças de Beth Davis (Margo), aprende com ela, procura a melhor amiga de Margo, pede para ser apresentada, e ainda consegue ser sua assistente.
Isto não acabou: Danuza Leão escreveu sobre este tipo de mulher em sua coluna da Folha de São Paulo no ano passado. Segundo ela, “mulheres que chegam de mansinho, tornam-se sua melhor amiga, cuidam de sua agenda e quando você vê; é dona de sua casa”. Em 6/02/2011 acontece com Danuza Leão, outro caso que apresentou na sua coluna de domingo: “Classes sociais”. Por preguiça de ir à piscina às 7h da manhã ela tem em casa uma empregada que por conta própria chegava a sua casa às 6h da manhã. Ela leva a empregada para fazer a natação com ela, paga a mensalidade e dá o material necessário. Quando comenta com amigos, ninguém diz nada. Um dia descobre que nos fins de semana, na sua ausência, a empregada “tira” férias com o marido na casa dela. Dispensou a empregada; teve que comprar roupas de cama que ela não averiguava, e que tinham acabado. Em vez de queijo gruière agora só compra queijo minas... Estamos no século XXI, Danuza despede as duas moças, cada uma a seu tempo.
Eve, na sua procura pela aprendizagem assiste às peças, fica em pé nas apresentações para baratear os custos.E assiste tanto, e fica melhor do que a própria protagonista. (Margo Channig interpretada por Bete Davis)
Só uma mulher mais experiente,a camareira, percebe a sua fantasia: a sedução posta em ato.
Porque ela faz tudo isto, seria ela má? Não propriamente. Trata-se de uma mulher que busca a todo custo acesso à feminilidade. E pode continuar assim a vida inteira porque é comum encontrarmos mulheres que só ficam assim: fálicas.
Quem sou eu? Porque elas desconfiam que algo manda nelas, mas não sabem o que é. Esta fantasia é inconsciente.
Freud em sua conferencia XXXIII de 1932: A feminilidade; perguntou “O que quer uma mulher? Tanto nós psicanalistas como outros estudiosos, tentamos responde-la”. O que fez Simone de Beauvoir imortalizar esta frase:” Não se nasce mulher, torna-se mulher”.
O caminho é longo e é um trabalho consigo mesmo em que cada uma deve se permitir, junto de um analista, fazer esta mudança de posição: de ser fálica para tornar-se mulher.
Freud dá algumas respostas a esta questão formulada por ele: A mulher quer mais ser amada do que amar. Aponta algumas saídas para a feminilidade. Fala da castração nos homens e do Penisnneid(inveja do pênis) na mulher.
Diz que a inveja do pênis “O desejo de ter o pênis, numa mulher madura, pode apesar de tudo, contribuir para levá-la a uma analise, e numa análise, o que ela pode racionalmente esperar de uma análise é o exercício de uma profissão intelectual”
Freud atribui um complexo de castração às mulheres. E que a descoberta de que realmente é castrada, representa um marco decisivo no crescimento da menina.
Três linhas de desenvolvimento se apresentam: 1)Conduz à inibição sexual ou à neurose; 2) a uma modificação do caráter no sentido de um complexo de masculinidade. (3) A terceira, finalmente a feminilidade normal. Acrescenta: temos aprendido uma quantidade considerável, embora não tudo a respeito das três.
Hoje a feminilidade não é mais o “continente negro” que Freud via nos anos 30 do século passado. E ele ao escutá-las não só descobriu a psicanálise como lançou os alicerces para que pudéssemos continuar avançando nos tratamento das
histéricas que batem as nossas portas.
Noêmia M. Moreira Bruzzi
Sinopse do filme: Desde o momento que vislumbra seu ídolo na porta do teatro, Eve Harrington ( Anne Baxter) dirigi-se impiedosamente rumo ao seu objetivo: arrebatar as rédeas do poder da grande atriz Margo Channig( Bete Davis). A astuta Eve manobra seu caminho para tomar o lugar de Margo na Broadway, causa sensação e interfere na vida do namorado de Margo ( Gary Merril), o escritor e suas peças (Hugh Marlowe) e sua esposa( Celeste Holm). Apenas o cínico crítico de teatro (o vencedor do Oscar, George Sanders) consegue perceber as intenções de Eve, admirando sua audáciae o padrão perfeito de dissimulação.

Noêmia: amei seu texto. Claro, explicativo, bem articulado, revisitando sempre novas /antigas questões e, claro, vou assistir ao filme. Meu abraço, Maria Antonieta Cohen
ResponderExcluirei noemia, ótimo texto, ótima a ideia de colocá-lo no nosso blog. parabens, suzana braga
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