quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Escola e o Chiste

Rosângela Gazzi Macedo*
Psicanalista
Membro da Escola Freudiana de Belo Horizonte/iepsi.

“A liberdade produz chistes e os chistes produzem liberdade”.

(Jean Paul Richter, 1804)



A transmissão da Psicanálise consiste em fazer passar os efeitos do inconsciente, do impossível de dizer do Real na experiência analítica. Freud e Lacan tomam o Chiste como um dos modelos da transmissão da psicanálise e a proposta deste trabalho é pensar a Escola como o lugar para acolher, escutar e teorizar os efeitos das formações do inconsciente, dessa experiência de saber que é tema do Colóquio em Salvador.

A alusão do chiste como formação do inconsciente implica que há um efeito do inconsciente, padecido por um sujeito, "atropelado" por um significante que se mostra como proveniente de um outro discurso, o do Outro. Demonstra a existência de um lugar alheio ao eu, e que irrompe de modo inesperado nos ditos do sujeito, ditos esses que aparecem como tropeço, um desfalecimento, uma rachadura, e que nos tocam de uma forma particular.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A psicanálise e a arte

Suzana Márcia Dumont Braga
Psicanalista
Membro da Escola Freudiana de Belo Horizonte/iepsi.
Doutora em literatura



Qual a proposição interliga esses dois significantes: psicanálise, arte. Seria um e, seria um ou? É interessante constatar que querelas sobre essa interlocução são infindáveis, desde Freud. Lacan e outros. Ora, se a Psicanálise não se encaixa no modelo clássico de ciência, poderíamos dizer que ela seria uma espécie da arte? Se há algo em comum, também há uma separação entre esses campos. O seminário Psicanálise: técnica ou arte pretende partir de Freud, em suas considerações sobre O estranho (1919), ir a outros autores mais contemporâneos para discutir essa relação.

Depois de percorrer duas pesquisas em pós graduação sobre a literatura, entendo que chegou o hora de trazer de volta as perguntas que o meu trajeto produziu, para a partir delas questionar e apontar pontos de amarração entre esses campos.


Suzana Márcia Dumont Braga

FAZER AMOR É POESIA ¹


Flávia Drummond Naves²
Psicanalista.
Membro da Escola Freudiana de Belo Horizonte/iepsi.
flaviadnaves@terra.com.br

PALAVRAS-CHAVE
Psicanálise – Escrita – Amor

SUMÁRIO
A autora trabalha o amor entre o imaginário, o contingente e o impossível para pensá-lo como uma escrita.


MOTS-CLÉS
Psychanalyse – Écriture – Amour

SOMMAIRE

L’auteaur travaille l’amour entre l’imaginaire, le contingent et impossible pour le penser comme une écriture.



Em 1926, Freud³ enlaça o amor à morte ao afirmar: a morte é a companheira do amor, juntos eles regem o mundo. Portanto, não poderemos mais escapar à vertente real do amor.
Encore. En cor. Ainda, em corpo, de novo, outra vez, além disso. No Seminário 20, Lacan utiliza-se da homofonia entre as palavras francesas: corps (corpo) e cor (escansão de en/cor/re, ainda) para escrever esse além, esse mais, ainda. ...Nós não sabemos o que é estar vivo, senão apenas isto, que um corpo, isso se goza (4). Ao buscar uma escrita para o gozo, Lacan indaga sobre o amor e o desejo. Segue os conselhos de Freud e vai à poesia para avançar na formalização dessa escrita. Trata-se de percorrer um caminho que permita enodar os três termos: amor, desejo e gozo. Aqui, não vou me estender na complexa articulação do autor. Apenas faço um recorte nesse tripé, para pensar o amor entre o imaginário, o contingente e o impossível. Para o sujeito, o amor revela o encobrimento da não relação sexual, assim como o fracasso desse encobrimento. Enquanto mola, o amor apresenta diferentes versões. Falar de amor é besteira. Fazer amor é poesia. Escrever o amor, a letra de uma carta de almor, é invenção, escreve o impossível. O amor parte da ideia de ser uma só carne e vem para fazer suplência à relação sexual. A poesia pode ser uma maneira menos besta para dizer o amor (5), ou pode ir muito além, ao escrever o amor.
 
Escrever.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

PSICANÁLISE E INFANS?

PSICANÁLISE E INFANS?


Rosely Gazire Melgaço
Psicanalista
Membro da Escola Freudiana de BH/iepsi
(31) 3224-0656


Anos atrás testemunhamos o esforço para considerar a eficácia da Psicanálise com crianças. Hoje em dia, ainda nos vemos às voltas com o estranhamento frente às transmissões de psicanalistas que trabalham no campo do infans – aquele que não fala -, e dos que estão em seu entorno.

Esse encontro com a criança, com o Infantil, pode se produzir maciçamente traumático, seja para os pais, seja para profissionais que com eles atuam. Há sempre um efeito de sideração no encontro com o Real.

Freud reconhece que, certamente, o ato do nascimento imprime uma marca, mas questiona a generalização desse ato como um trauma. A isso Lacan contribui quando diz que “de trauma, não há outro: o homem nasce mal-entendido”. 1