quinta-feira, 28 de julho de 2011

"Quem é essa criança?"

“Quem é essa criança?”
Todos somos PRE

Regina Macêna da Costa Vieira (1)
psicanalista e participante do Espaço de Estudo 
e Transmissão da Escola Freudiana de Belo Horizonte/iepsi



Lacan sustenta em ‘O estádio do espelho como formador da função do eu’ (1949) que o bebê depende de uma operação própria de antecipação diante da imagem no espelho, unificando sua imagem a partir do Outro. Isto deve ser realizado mesmo considerando a imaturidade biológica de que é acometido. Desta forma, podemos pensar a questão “Quem é essa criança? Todas são prematuras” (2) como uma formulação sobre a prematuridade que envolve este infans estruturalmente.

O bebê sempre nasce antes das possibilidades biológicas de se proteger, alimentar e locomover em comparação a maioria dos demais mamíferos. É fundamental um outro humano que viabilize estes cuidados. Mas isto não é suficiente: é necessário também que haja um Outro encarnado que tome este bebê a partir de seu desejo através destes cuidados e que possibilite a este infans se constituir enquanto sujeito.

terça-feira, 10 de maio de 2011

A violação em Preciosa

Prefeitura de Belo Horizonte

A violação em Preciosa
(apresentação e discussão sobre o filme de Lee Daniels)


Flavia Drummond Naves
Psicanalista
Membro da Escola Freudiana de Belo Horizonte/iepsi
31 de março de 2011


Segundo Roland Barthes, existe uma situação de cinema, e esta situação é pré-hipnótica. Seguindo uma metonímia verdadeira, o escuro da sala é pré-figurado pelo devaneio crepuscular (prévio a hipnose, no dizer de Breuer- Freud ) que precede este escuro e conduz o sujeito de rua em rua, de cartaz em cartaz, a precipitar-se finalmente num cubo obscuro, anônimo, indiferente, onde deve-se produzir este festival de afetos que chamamos de filme.” ( Roland Barthes, Saindo do cinema. Psicanálise e cinema, p121). O festival de afetos que vamos discutir aqui chama-se “Preciosa”.

No filme de Lee Daniels, Preciosa é uma adolescente que sofre a violação de seus direitos e vive ameaçada na sua integridade física, moral e social. Qualquer pessoa está sujeita à violação dos direitos humanos, mas, ela atinge muito mais aqueles que são excluídos socialmente ou pertencem a minorias étnicas, religiosas ou sexuais. (Mario Augusto Bernardes. Pesquisa Golgle, 27/3/11.) Preciosa sofre os efeitos de todo tipo de preconceito: sofre por ser negra, gorda, pobre e mulher.

No filme, o expectador é conduzido a testemunhar as cenas de violação vividas pela adolescente na escola, nas ruas e no lar. A experiência de violência doméstica mostra os traços marcantes que conduzem Preciosa à uma posição de objeto na relação com as pessoas que a cercam. Nessa cena, o nome Preciosa dá consistência ao sentido de objeto de grande preço, moeda de troca que ela é para sua mãe, um meio de obter o auxilio família fornecido pelo governo ou mesmo a prenda oferecida ao pai para realizar o gozo perverso do casal. A adolescente vive num lar que não é regido por nenhum tipo de lei, é a barbárie. A proibição do incesto é negada: sua mãe sabe, seu pai sabe, mas, mesmo assim, submetem a filha aos abusos sexuais e morais. Inserida nesse jogo perverso, ela é reduzida a objeto de gozo dos pais.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A Malvada: um dos nomes para a histérica

Noêmia Maria Moreira Bruzzi
Psicanalista
Membro da Escola Freudiana de Belo Horizonte/iepsi



Desde a época em que era queimada nas fogueiras, na Idade Media, como uma bruxa; a histérica tem sido nomeada de varias maneiras. O caminho das histéricas depois disso foi: as paralisias do século XIX, a mascarada fálica da psicanalista Helen Deustch, tendo antes passado pelas sabias mãos de Freud que ao escutá-las como merecedoras de atenção. Descobriu, através dessa escuta, o funcionamento psíquico delas numa época de extremo organicismo, tanto dos neurologistas como dos psiquiatras que achavam que essas paralisias não passavam de fingimento: embora elas não andassem.
Foi com Freud que elas tiveram o direito de um tratamento digno e próprio: a psicanálise. Mas não nos iludamos: embora a psicanálise já esteja inserida na nossa cultura há mais de um século e aceita, freqüentando inclusive os CERSAM; ainda tem médicos que dela nada querem saber; e o pior: agem como os médicos do século XIX. Dizem: “a Senhora não tem nada”, diante de uma enxaqueca que depois de mudanças na posição subjetiva desse sujeito histérico simplesmente desapareceu. Seria “muito mais adequado da parte desse médico” “O doutor computador” se ele conseguisse dizer: “A Sra. não tem nada que eu possa tratar: continue com a sua psicanalista”. Mas como nós  sabemos o computador só obedece ordens: por si só ele não faz nada! Esse Dr. Computador devia ter um protocolo e só saber  trabalhar dentro dele. Nem todos os médicos são assim: muitos estão nos procurando, e descobrem com a sua própria analise que eles adquiriram outra escuta, aprendendo a escutar seu inconsciente.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Jornada de Cartéis

“Nenhum progresso é esperado senão o de uma exposição periódica a céu aberto dos resultados, assim como das crises de trabalho” Lacan em 11 de março de 1980.

Sustentado em seu funcionamento pelo desejo de cada um e sob transferência de trabalho, o movimento dos cartéis na Escola tem como função operar a proposta fundamental de transmitir e fazer avançar a Psicanálise.

O campo da Psicanálise se ordena pela lógica do não-todo, por um saber a ser inventado e, no enlaçamento que direciona sua causa está o nó, o buraco. É nessa via que a base de uma Escola se constitui.

Os testemunhos da experiência desta lógica trazidos pelos cartéis inscritos na Escola nos faz avançar e prosseguir no trabalho de invenção que a psicanálise convoca.

A Jornada de Cartéis da Escola Freudiana de Belo Horizonte/iepsi abre o espaço para esse trabalho, onde cada cartelizante possa apresentar sua produção final ou a questão que o instiga no momento. O objetivo também é que os cartéis participem com a elaboração possível num tempo de suspensão, como se uma pergunta tivesse sido feita: O que se passa no seu cartel? É o tempo de retornar à Escola os restos que, uma vez relançados, causem trabalho. "


Comissão de Jornadas de Cartéis:

Áurea Regina de Araújo Porto

Carmen Tereza Ribeiro Moreira Caram (Coordenação)

Rui Barbosa Junior


Nesse próximo sábado, dia 9 de abril, teremos a nossa Jornada de Cartéis.

Início: 8:00 hs

Término: 18:00 hs

Local: Escola Freudiana de Belo Horizonte/iepsi

Av. Prudente de Morais 287, 3° andar, BH

Contato: Telefax: (31) 3296-7544

ou pelo e-mail: escolafreudianabhiepsi@veloxmail.com.br

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Psicanálise e transmissão: O mal estar em movimento


Maria Barcelos de Carvalho Coelho
Psicanalista
Membro da Escola Freudiana de Belo Horizonte/iepsi

O “VIII Fórum Mineiro de Psicanálise” acontecerá nos dias 26/27/28 de agosto na cidade de Bom Despacho_ oeste de Minas Gerais.  Escolas de Psicanálise da capital e algumas do interior do Estado iniciam os preparativos, nos quais, desde já, o tema proposto para o evento_ “ O mal-estar na cultura”_  nos causa movimento no sentido de trabalho.

Sabemos que, como sujeitos do inconsciente _ divididos pelo desejo e desdobráveis pelo significante_ abrimo-nos ao que há de mais pulsante na vida cultural:a possibilidade de uma transmissão que traga a marca de um “desejo não anônimo”  _ aquele em que o nascimento de um “saber novo” se vincula ao compromisso de cada um.

sexta-feira, 11 de março de 2011

A Clinica e o Real

No dia  23 último, deu-se inicio às atividades da Escola Freudiana de Belo Horizonte/iepsi.
Nossa proposta de trabalho para o ano de 2011 é "A Clínica e o Real". Segundo Rosangêla Gazzi Macedo:



Rosângela Gazzi Macedo
Psicanalista
Membro da Escola Freudiana de Belo Horizonte/iepsi

"O tema anual de trabalho da Escola Freudiana de BH/iepsi: A Clinica e o Real  surgiu como resultado do movimento dos membros em torno do estudo teórico e das apresentações clinicas. A secção clinica, dispositivo que convoca os analista da Escola a formalizar o inédito de sua clinica, e a leitura do texto a Terceira de J.  Lacan nos colocou diante de novas questões sobre o real. Esse texto  de 1974 é o 3º discurso de Roma, proferido por Lacan, e traz uma terceira definição do Real. Algumas pontuações como: o real é o que funciona mas atinge o homem por sua discordância; o real é o que não caminha, o que não cessa de se repetir;  o analista tem por missão opor-se ao real; o real não faz sentido; essas e tantas outras questões nos relançaram na torção moebiana teoria/clinica. Nossa proposta é estudar o Real ao longo da obra de Freud e Lacan articulado com questões da  clinica para que a transmissão na Escola produza efeitos de discurso analítico."

Tratar o Real pelo Real

Na abertura das nossas atividades fomos brindados com as conferências de Gilda Vaz Rodrigues e Ida Amaral Brant Machado. Postamos aqui uma pequena amostra do que foi apresentado.


 Gilda Vaz Rodrigues
 Psicanalista


Tomando o simbólico como ponto de partida, o ensino de Lacan destaca duas dimensões do real. Uma que é produto do simbólico e outra que não decorre do simbólico, mas que só é pensável a partir do mesmo. Como vemos, a psicanálise está sempre às voltas com os binários – pulsão  de vida e pulsão de morte, princípio do prazer e além do princípio do prazer, tiquê e automaton, alienação e separação e muitos outros, sem esquecer o básico binário S1 e S2. Portanto, é curioso pensar o manejo do real a partir dessas  duas dimensões, ou seja, dois tempos lógicos no campo do real. Considerando essa tese, proponho-me pensar  tal manejo.

Operamos, então, com essas duas dimensões do real:  uma,  em que o trabalho analítico opera a redução do sentido que redundará na destituição subjetiva, nome lacaniano para a castração freudiana, e na primazia do significante e da letra; outra em que não há significante, tocando-se num ponto de impossibilidade da relação e de foraclusão do significante fálico.

A Clínica e o Real

   Ida Amaral Brant Machado
 Psicanalista
Membro da Escola Freudiana de Belo Horizonte/iepsi 


Na abertura das atividades da Escola Freudiana de BH/iepsi,  o tema proposto é a clínica e o real.
Começando com o trabalho clínico de Freud, inicialmente  com as  histéricas, faz-se um percurso da clínica a teoria, e o retorno à clínica.
Em um segundo tempo, busca-se situar a clínica psicanalítica e o seu manejo, frente as demandas que o analista não deve recuar.
No terceiro tempo é trabalhada a categoria do real, introduzida por lacan, que direciona a clínica psicanalítica na vertente do real.
Como lidar com a clínica psicanalítica hoje, frente aos imperativos do gozo, as impulsões e compulsões, a busca da satisfação imediata, do uso do "divã químico"?
Essas são questões a serem trabalhadas.